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6 de Agosto de 2021
«Tecnologia e Inovação são condições absolutas de sobrevivência» João Taborda
Entrevista a João Pedro Taborda publicada na revista Executive Digest. Julho 2021
A FORMA COMO EXIGE O MELHOR DOS SABERES EM TANTAS ÁREAS DIFERENTES É O QUE MAIS FASCINA JOÃO PEDRO TABORDA, NA INDÚSTRIA DA AVIAÇÃO.
João Pedro Taborda é Director de Relações Externas da Embraer desde 2005. A empresa está sediada em Bruxelas e o profissional é responsável por assuntos com governos e por políticas públicas com impacto para o Grupo na região de Europa, África e Médio Oriente. É licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, escola onde obteve também o grau de Mestre em Gestão de Tecnologia e Políticas de Engenharia com especialização no tema de compensações económicas associadas a aquisições públicas. No âmbito das duas funções na Embraer, está envolvido desde 2006 na equipa constituída para conduzir as negociações com o Governo Português que resultarem na instalação em Évora de duas novas fábricas para a construção de segmentos em materiais e materiais compósitos destinados aos produtos da Embraer. De entre as actividades associadas a este trabalho esteve envolvido num trabalho de quatro anos com a AICEP para qualificação de empresas portuguesas com vista ao fornecimento à Embraer e ao sector aeronáutico a nível Global, para além do apoio na definição e implantação de projectos de I&D suportados por parcerias entre o Sistema Científico e Tecnológico Nacional e a Embraer. Em paralelo com o desenvolvimento de projectos financiados pela Comissão Europeia participa desde 2006 em iniciativas em Portugal, como o projecto LIFE na área da demonstração de conceitos em interiores de cabine, premiado internacionalmente, e um projecto para o ensaio no laboratório do ISQ em Castelo Branco de uma estrutura aeronáutica crítica construída em material compósito. Em 2013 e 2014 trabalhou na equipa da Embraer que estudou a viabilidade e anunciou em Fevereiro de 2014 a implementação em Évora do Centro de Engenharia e Tecnologia da Embraer na Europa, segundo do género fora do Brasil, para além do Centro que a empresa tem em fase de instalação nos Estados Unidos. É membro do Conselho da Diáspora Portuguesa desde 2014.
O QUE DIZ JOÃO PEDRO TABORDA…
A paixão pelas corridas de automóveis,
desde pequeno, levou-o a tirar o curso de Engenharia. Mais tarde, João Pedro Taborda
acabaria por entrar no mundo empresarial e na indústria da aviação.
Se tivesse que resumir, como
classificaria as principais funções que tem hoje como director de Relações Externas
da Embraer?
A minha prioridade é entender as
políticas públicas dos países com maior prioridade para o nosso negócio, e para
a nossa presença corporativa. Identificamos as entidades que levam por diante
essas políticas, procurando alinhar a nossa estratégia enquanto empresa com as
prioridades dos países. O resultado é um leque de temas interessante para
trabalhar e que inclui áreas tão diversas como as políticas industriais e de inovação,
regulação do transporte aéreo, ou, ainda, as grandes aquisições públicas na
área da Defesa ou da Aviação Civil, neste último caso por parte de companhias
aéreas estatais.
Trabalhou durante oito meses como
engenheiro, mas desde cedo percebeu que gostava de ir para as empresas. Porquê?
É verdade. Ainda durante a minha
licenciatura tive a boa oportunidade de começar a trabalhar num grupo de
investigação no Técnico, mas cedo percebi que o que mais me atraía era ir às
empresas discutir como o que fazíamos os poderia ajudar nos seus processos
industriais. Foi há 28 anos, e desde então que ficou um pouco este hábito de
olhar para a tecnologia e procurar entender onde ela pode ajudar uma empresa,
ou um conjunto de empresas.
O que mais o fascina na indústria da
aviação?
A forma como exige o melhor dos saberes
em tantas áreas diferentes. Desde o engenheiro especialista na combustão que
tem lugar dentro de um reactor até ao médico que estuda o conforto de quem
viaja, passando pelos aspectos técnicos e comportamentais de tripulações e
passageiros. É um mundo infindável de áreas onde cada um tem que dar o seu
melhor para que um produto seja seguro e competitivo.
Qual é o seu papel na forte ligação que
a Embraer tem a Portugal?
Tenho feito parte da equipa que, desde
a privatização da OGMA em 2005, tem trabalhado com o Governo português para
investirmos mais e procurarmos acrescentar mais valor ao país. Os investimentos
que fizemos em Évora são um dos exemplos, mas, entre os outros efeitos, tem
sido também gratificante assistir à integração entre engenheiros e outros especialistas
portugueses e brasileiros que estão a trabalhar
juntos em novos produtos e tecnologias.
A Embraer tem também uma forte ligação
às Universidades? Em que se traduz?
Como empresa que desenvolve e fabrica
máquinas tão exigentes e complexas como aviões, a Embraer tem que acompanhar o que
é feito nas universidades, mas não só. À medida que a tecnologia amadurece, ela
transita também para centros tecnológicos e, em alguns casos para pequenas e
médias empresas, ou até para a criação de start-ups. É todo esse ciclo que
precisamos de acompanhar em todo o tipo de áreas de conhecimento, para
apoiarmos esse desenvolvimento e trazer essas tecnologias para os nossos
aviões. Claro que, a tudo isto, soma a função-base das universidades de formar
pessoas.
Qual a importância da tecnologia e da
inovação para uma empresa como a Embraer?
Tecnologia e Inovação são condições
absolutas de sobrevivência neste sector. Nunca foram e nunca serão opções. Para
a Embraer ou para qualquer outro construtor.
A retenção de talento é chave para o
sucesso de grandes empresas como a Embraer?
Sem dúvida. Empresas como a nossa
precisam de acumular o melhor do conhecimento dos seus profissionais para
assegurar os produtos mais inovadores e competitivos. São gerações de especialistas
que em alguns casos atravessam uma carreira inteira a trabalhar numa área de
conhecimento, e precisamos de trabalhar para que sintam que ficar conosco é a
melhor opção para eles também.
Como é o dia-a-dia de trabalho numa das
maiores construtoras de aeronaves no mundo?
Muito intenso, sobretudo na fase que
temos vivido devido à pandemia. Tem sido um sector muito impactado desde março do
ano passado, o que coloca desafios diários à capacidade das empresas do sector
se adaptarem ao cenário. Apesar disso, com ou sem crise pandémica, o
denominador comum em qualquer momento é pensarmos nos clientes, na melhor forma
de atender as suas expectativas, e na reputação e perenidade da empresa.
Para “matar saudades da engenharia” tem
algum hobby ou actividade ligada a esta área?
Em rigor, foi a paixão pelas corridas
de automóveis desde pequeno que me levou para a Engenharia. Os aviões apenas apareceram
já perto dos 30 anos. Apesar do curto talento e da curta carteira para sonhar
numa carreira de piloto de automóveis, desde miúdo que me chamou à atenção a
tecnologia e a engenharia que suporta esse desporto. Por exemplo, nunca deixou
de fascinar ver de que forma uma máquina puxada ao limite suporta uma corrida
de 24 horas, ao mesmo tempo que valida a tecnologia que lhe permite chegar à frente
de todos os outros.
O que é que significa para si ser
membro do Conselho da Diáspora Portuguesa? Representa o dever de olhar com orgulho para Portugal, e de projectar a
melhor imagem do país – onde e com quem quer que eu esteja. No que haja para
melhorar e nas nossas qualidades como país, Portugal será sempre o somatório
dos contributos de cada um. Estar no Conselho convida-nos a reforçar a nossa responsabilidade
em trazer um contributo válido nessa direcção.
Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.
Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.