A mais jovem realizadora portuguesa surpreendida para a Melhor Curta em Berlim. De volta a Portugal, tem projecto para um novo filme.
Tem 23 anos, é a mais jovem realizadora de sempre a receber um Urso de Ouro e as pessoas que acompanharam o 66º Festival de Berlim estavam naturalmente curiosas em relação a esta rapariga, de etnia cigana por parte do pai, que fez um filme sobre sapos de louça e a xenofobia que existe em Portugal contra os ciganos. “O que senti ao longo do festival foi que as pessoas gostaram mesmo muito do filme”.
Em Portugal também já tinham dado por ela – enfim, não o grande público, mas aqueles que estavam atentos e que a descobriram em 2013 primeiro na Competição Nacional do IndieLisboa, onde foi distinguido com uma menção honrosa, e depois quando Leonor apresentou a sua primeira curta, Rhoma Acans, no festival de Vila do Conde, onde conquistou o prémio Take One!.
Mas foi quando fez o curso na Escola Superior de Teatro e Cinema, na Amadora (entretanto já fez o mestrado em Audiovisuais e Multimédia da Escola Superior de Comunicação Social) que pensou, “Como seria a minha vida se o meu pai (cigano) não tivesse casado com a minha mãe, uma pessoa de fora da comunidade? Preocupações que tinham a ver com o facto de ser rapariga, de poder estudar.” Apesar de não ter crescido no meio da comunidade cigana, Leonor manteve o contacto. “O meu pai, que já morreu, era cigano e senti-me sempre ligada porque toda a minha família do lado dele é cigana, a minha avó é cigana e eu não cresci afastada dela.”
Balada de um Batráquio, de onze minutos, com que venceu em Berlim, “O filme baseia-se na ideia, talvez ingénua, de que a acção pode levar a uma mudança de atitude”. Queria fazer um filme enérgico, irónico e irreverente. Quis surpreender os espectadores com o que eles sabem e o que pensam que sabem”.
Está de regresso a Portugal e vai continuar a trabalhar. “Não trabalho só como realizadora, tenho feito coisas para a televisão, pequenos anúncios, e trabalho em cinema em projectos de outras pessoas”. Mas tem já num novo projecto pessoal na cabeça, um filme feito na sua terra, Vila Franca de Xira. “Parte de um sítio e de uma personagem e da região do rio Tejo.”
Por Público, Março 2016