Maya de Almeida Araújo foi atleta de natação no Benfica, headhunter e, hoje, é uma das talentosas especialistas em fotografia debaixo de água em movimento. Premiada e reconhecida internacionalmente pelas suas fotografias subaquáticas, muitas feitas em apneia, que começaram por ter animais como modelos e agora se centram em pessoas.
– Como descobriu o “olhar” (através da lente) que a define?
Eu não intelectualizo a forma como fotografo, mas posso falar sobre o que me alimenta a alma. É importante dizer que o que difere a área criativa das outras áreas é isso (a menos que o trabalho seja puramente comercial): aquilo que se produz e em grande parte produto do que se está a passar a nível interior nesse momento em particular. Há alturas em que procuro intimidade no trabalho e outras em que estou apaixonada por cor e o movimento, sinto que tenho de “pintar” com luz. O que tem sido consistentemente uma fonte é a música, o movimento e o corpo. O mundo do palco é uma fonte de inspiração enorme. Quando tomei a decisão de seguir profissionalmente a área audiovisual, procurei mentores cujo trabalho eu admirava nos Estados Unidos e em Londres. Passei também algum tempo com fabricantes de equipamento de luz em Basel para poder adicionar disciplina à forma como abordava o trabalho e desenvolvi competências técnicas para dar vida às imagens que tinha em mente. Isto é particularmente importante porque a maioria das imagens que me surgem são pouco literais, mais criativas. Noutras palavras – sem as competências técnicas, as minhas ideias seriam impossíveis de criar.
– O mundo da fotografia está a fazer um caminho a preto e branco? Ou a cores ilimitadas?
Esses são dois percursos muito diferentes e distintos. A cor é estética, o Preto e Branco é textura e forma e está mais próximo daquilo que as pessoas veem (apesar de não estarmos conscientes disto). A cor para mim é o mundo de sonho, criar outras dimensões. O Preto e Branco é essência. É mais primordial na sua crueza, que está mais próxima do nosso subconsciente e como resultado disso, é também mais intenso.
– Que fotografia lhe vem à cabeça quando pensa em felicidade?
Estar suspensa na vertical de cabeça para baixo no mar.
– O que sobra de Portugal em si?
Deixei Portugal quando tinha 17 anos e vejo-me como uma Londrina. Muitas vezes sinto mesmo que sou uma Londrina de nascença. Mesmo assim, é impossível não sentir que há um pedaço de Portugal em mim. Quando volto, parece que nunca deixei Portugal. E volto frequentemente para estar com família e mar. Se tivesse ido viver para os EUA, em vez de ir para o Reino Unido, acredito que o sentimento de separação teria sido muito maior. A verdade é que sempre senti que o que me definia não era a nacionalidade, mas sim o carácter. Acho que a minha abordagem directa e pragmática tem provavelmente origens em Portugal.
– Qual é que tem sido o seu papel enquanto conselheira da Diáspora Portuguesa no Mundo?
Como parte do meu papel no Conselho da Diáspora, participei nas “Conversas com a Diáspora” na Universidade Católica, falando sobre o que poderão ser as profissões do futuro. O Conselho da Diáspora é uma entidade muito dinâmica e colaborativa onde debatemos formas de trazer para Portugal as competências únicas que possamos ter desenvolvido no estrangeiro. De certa forma, ao fazer parte deste grupo é como se fôssemos todos embaixadores do país. Neste momento estou a trabalhar num projeto muito especial sobre o Mar Português, que vai ser lançado em outubro deste ano.