Lisboa está cada vez mais no radar desta indústria milionária, a poucos meses de se inaugurar o novo terminal de cruzeiros, que poderá mais que triplicar o número de passageiros.
O MSC Meraviglia, o maior navio de cruzeiros de um armador europeu, foi o sétimo do grupo sedeado na Suíça a escolher o porto de Lisboa para a sua viagem inaugural. Um sinal de que a capital portuguesa está cada vez mais no radar desta indústria milionária, a poucos meses de se inaugurar o novo terminal de cruzeiros, que poderá mais que triplicar o número de passageiros. Portugal deverá ser um dos países mais beneficiados com o ‘boom’ previsto para a indústria mundial de cruzeiros, com destaque para os terminais de Lisboa, Leixões e Funchal.
A nível global, o sector dispõe neste momento de uma frota de cerca de 350 navios de cruzeiro a funcionar, mas com base nas encomendas já firmadas entre os maiores operadores do ramo e os estaleiros navais está previsto que passem a navegar nos diversos mares do mundo mais 80 a 90 navios de cruzeiro até 2020. Um crescimento de entre 23% e 25% em número de navios, mas que deverá ser ainda mais significativa em capacidade para passageiros, uma vez que a tendência é construir navios de cruzeiro cada vez maiores.
E o movimento ascendente desta indústria está a ser acompanhado a par e passo pelos quatro grandes operadores mundiais do sector – Carnival, Royal Caribbean, Norwegian Lines e MSC Cruises – Segundo as estimativas elaboradas pela revista especializada no setor, ‘Cruise Industry News’ no relatório anual relativo a 2016, a que o Jornal Económico teve acesso, qualquer destes gigantes do mar irá aumentar a sua capacidade para passageiros no presente ano e no próximo. Uma constante que se vai manter para os anos seguintes porque ninguém quer perder esta batalha e existe ainda muito espaço para crescer, já que apenas 2% dos viajantes de todo o mundo optam por se deslocarem em navios de cruzeiro.
E quando há mais navios de cruzeiros nos diversos mares preferenciais para este tipo de turismo – Caraíbas, Mediterrâneo e Ásia/Pacífico valeram cerca de 64% das viagens de cruzeiro no ano passado – ocorre mais pressão para se desenharem novos itinerários. É aí que Lisboa, que se encontra a maior caminho entre a Europa do Norte (Báltico e fiordes nórdicos, outros destinos privilegiados dos navios de cruzeiro) e o Mediterrâneo, deverá beneficiar.
A inauguração do novo terminal de cruzeiros do porto de Lisboa, prevista até ao final de setembro será outra grande alavanca de crescimento deste segmento de turismo, uma vez que se passará da barreira dos 500 a 600 mil visitantes por ano, de onde dificilmente se poderia sair com as actuais infraestruturas, para um horizonte em que se pode chegar a 1,8 milhões de turistas de cruzeiros por ano num prazo temporal relativamente curto, provavelmente em cerca de dez anos.
Além de Lisboa, também o porto de Leixões, com um novo terminal de cruzeiros inaugurado há cerca de dois anos deverá beneficiar deste crescimento da indústria de cruzeiros a nível global. O mesmo poderá acontecer com o porto de Portimão, que está a ser alvo de diversas melhorias e adaptações. Mesmo sem novas infrasestruturas, os portos do Funchal, na Madeira, e dos Açores têm registado crescimento do número de turistas de cruzeiros nos últimos anos, uma tendência que deverá prosseguir nos próximos anos.
A presença esta semana no porto de Lisboa, na sua viagem inaugural, do último grito da indústria de cruzeiros, o MSC Meraviglia, da MSC Cruises, é um sinal da vantagem geoestratégica do porto da capital também nesta atividade e de que um dos maiores operadores do sector está apostado em investir para continuar a crescer e a fortalecer a sua actividade no mercado nacional. Este é o 13º navio da frota da MSC mas integra um pacote onde está prevista a construção de mais 10 navios de cruzeiro de última geração, cada vez com maior capacidade e a grande maioria já movidos a gás natural liquefeito (GNL), num investimento global calculado em cerca de nove mil milhões de euros. Só o MSCMeraviglia custou cerca de 800 milhões de euros, apurou o Jornal Económico.
A MSC Cruzeiros deverá transportar a nível global cerca de 1,8 milhões de passageiros durante o presente ano, mas com os investimentos já efetuados e com os que estão previstos, estima vir a transportar cerca de 4,8 milhões de passageiros em navios de cruzeiro em 2026.
Em Portugal, a empresa, liderada por Eduardo Cabrita, está presente há sete anos e o número de passageiros portugueses tem crescido sistematicamente a uma razão de dois dígitos ao ano, a uma média de 14% no período em análise, tendo chegado ao final do ano passado com um total de 20.500 passageiros de cruzeiro, ou seja, cerca de 41% do total de 50 mil passageiros nacionais que optam por este segmento turístico.
O objectivo é acompanhar ou até superar este ritmo de crescimento nos próximos anos. Segundo os últimos dados disponibilizados pela APL – Administração do Porto de Lisboa, entre janeiro e abril deste ano o porto da capital movimentou um total de 77.247 turistas de cruzeiro, o que representou uma quebra de quase 11% face ao período homólogo do ano transato. Diversos especialistas do sector disseram ao Jornal Económico que se trata de uma situação conjuntural que deverá ser recuperada ao longo do ano, prevendo que a abertura do novo terminal de cruzeiros de Lisboa, prevista para o final deste verão, venha a ter um papel decisivo no crescimento deste mercado. Até porque um dos principais accionistas da sociedade concessionária do terminal, a Lisbon Cruises, é a Royal Caribbean, a segunda maior operadora mundial do sector, o que também abre fortes perspectivas de crescimento ao porto de Lisboa e a Portugal neste mercado turístico.
Por Jornal Económico, Junho 2017