Há 13 portugueses na GoldmanSachs, mas António Esteves, ‘partner’ da Goldman Sachs, quer que haja mais portugueses a trabalhar no banco norte-americano.
Há 13 portugueses na GoldmanSachs, mas António Esteves quer que o número seja maior.
O ‘partner’ da Goldman Sachs, António Esteves, quer que haja mais portugueses a trabalhar no banco norte-americano. Na semana passada, a entidade nomeou um português, José Luís Arnaut, para o conselho consultivo. Mas o número poderá aumentar, já que António Esteves está em contacto com algumas universidades portuguesas para cumprir este objectivo. O director da Goldman considera que os portugueses têm muitas qualidades mas que precisam de acreditar mais em si próprios.
Qual foi o seu percurso até chegar ao topo da banca de investimento e qual o significado de ter chegado a ‘partner’ da Goldman Sachs?
Começo a carreira no Deutsche Bank em 94, em Lisboa. Depois de dois anos e meio passo para o Santander Negócios em Portugal e trabalho até 1998. Nesse ano recebo um convite da Merrill Lynch mesmo antes da entrada em vigor da moeda única. Em 2007, quando rebenta a crise, a Merrill Lynch é das primeiras a serem afectadas e, em 2008, recebo uma série de convites de bancos, sendo que o da Goldman Sachs foi o que mais me atraiu. O convite foi para ser responsável por todas as operações da Goldman Sachs em Portugal, Itália, Espanha e Grécia. A coisa corre muito bem. E quando me fizeram ‘partner’, em 2012, foi o resultado disso. Agora, além de ser responsável pelo Sul da
Europa, sou também responsável por toda a parte europeia de clientes. É gratificante e é uma boa medalha…
É fácil para a Goldman Sachs operar em mercados da periferia sobretudo quando há uma parte da opinião pública que vê a banca de investimento como co-responsável pelos problemas que aconteceram?
As instituições e os mercados são feitos por pessoas e no fundo isto é tudo à base de relações pessoais. Pessoalmente, tenho uma relação muito boa com quase todos os investidores e clientes da periferia. E há uma grande relação de confiança. Os media gostam sempre de apimentar as coisas mas, até agora, não temos tido muitos problemas.
Existe de facto uma cultura específica e diferente que justifique esta aura que é aplicada pela opinião pública e pelos media em relação à Goldman?
A Goldman Sachs é um banco que tem a capacidade de atrair o melhor talento que existe. Quando uma instituição tem as melhores pessoas a trabalhar para ela, essas pessoas poderão depois acabar noutros lugares de influência. Isso é normal. Não é por aí que é diferente de outras entidades. Tem é esta cultura de ‘partnership’ em que todas as pessoas são co-responsáveis do que o banco faz. Se eu quiser fazer uma alocação de capital a um projecto ou a um investimento no sul da Europa, não sou eu e o meu chefe a decidir. Há um comité onde todos os ‘partners’ dão a sua opinião e dão a sua visão. É um processo que demora mais, mas que é mais sólido. Este processo de socialização e de maior reflexão em todos os passos que o banco dá em algumas decisões estratégicas é que o faz, eventualmente, diferente de outros bancos. Mas eu só conheço a Merrill Lynch e a Goldman…
Há muitos portugueses a trabalhar na Goldman?
Recentemente promovi um almoço com todos os portugueses da Goldman Sachs a nível mundial. Fiquei agradavelmente surpreendido porque temos à volta de 13 portugueses. Mas uma das coisas em que estou pessoalmente envolvido e que quero ver é que haja mais portugueses na Goldman porque são muito poucos ainda. Fiz contactos com as principais universidades portuguesas no sentido de tornar a comunicação mais fluida. Fiz umas palestras no MBA da Nova e da Católica e a mensagem que mais vinquei foi de que os portugueses são melhores que todos em muitos aspectos. Mas há um aspecto, que para mim é o mais importante, em que os portugueses são sempre os piores: a confiança neles mesmos. Temos de trabalhar nisso porque os portugueses quando têm confiança e quando querem arriscar são fantásticos. Temos exemplos de pessoas como o Cristiano Ronaldo, o José Mourinho, o António Horta Osório. São histórias de sucesso internacionais e temos de pegar nesses exemplos.
Assistimos a muitos casos de pessoas que saem da banca de investimento para o Estado? Pondera dar esse passo?
Não sei. É uma pergunta muito difícil. Neste momento, ainda não. Quero muito ajudar Portugal, dentro do que possa fazer. Mas para já ainda não equacionei nada mais do que isso. Estou na Goldman e ainda estarei na Goldman Sachs durante anos.
Por: Economico, 14 Janeiro 2014