
14 de Abril de 2025
Reunião do Conselho Consultivo | Abril 2025
No dia 10 de abril, o Conselho da Diáspora Portuguesa realizou a sua primeira reunião do Conselho Consultivo de 2025, no Hotel Pestana Palácio do Freixo, no Porto.
12 de Fevereiro de 2025
No âmbito da parceria entre o Conselho da Diáspora Portuguesa e o Negócios, Patricia Teles, CEO da Print4You Moçambique e Conselheira do Núcleo Regional de África foi entrevistada para o Jornal de Negócios, onde abordou o seu percurso profissional e identificou oportunidades competitivas para Portugal, a sua economia, empresas e empresários em geral.
1- O QUE O LEVOU A SAIR DE PORTUGAL?
Uma combinação de fatores pessoais e profissionais. Profissionalmente, procurava melhores oportunidades de desenvolvimento da minha atividade; além disso, fui empreendedora desde cedo e tinha vontade de descobrir outras culturas e formas de viver: encontrei em Moçambique tudo o que pretendia.
Procurava um desafio estimulante e um ambiente onde pudesse contribuir com soluções inovadoras, onde pudesse ampliar os meus horizontes e adquirir novos conhecimentos e competências. Moçambique expandiu a minha visão do mundo e tornou-me uma pessoa mais adaptável e resiliente.
2- QUE VANTAGENS OU DESVANTAGENS LHE TROUXE O FACTO DE SER PORTUGUÊS?
A nacionalidade é um ativo valioso. Entre as vantagens, a língua, que facilita a criação de uma base de confiança nas interações, enquanto a herança sociocultural, e histórica, criam um terreno fértil para parcerias.
A rede de contactos e a comunidade portuguesa no exterior ajudaram na minha integração. A reputação de Portugal, dos seus empresários, e os inúmeros casos de sucesso, além das boas relações diplomáticas, contribuem muito para a credibilidade.
3- QUE OBSTÁCULOS TEVE DE SUPERAR E COMO O FEZ?
Quando vim pela primeira vez a Moçambique fazer prospeção de mercado, trazia uma ideia de facilidades. Felizmente, o meu pragmatismo e experiência ajudaram-me a ajustar rapidamente as expectativas: percebi que existiam, sim, oportunidades, mas que teria de criar umas tantas outras. No entanto, admirei imensamente o país e rapidamente me imaginei a viver em Moçambique.
Tive de alterar totalmente o meu modelo de negócio inicial. Fui obrigada a reinventar-me e a ajustar-me, o que me permitiu construir uma empresa sólida; mas, na altura, implicou arriscar bastante. Ler o mercado com muita perspicácia é um fator determinante e exige uma análise cuidada das necessidades locais e uma adaptação constante aos desafios.
Outro desafio relevante foi a necessidade de conquistar a confiança dos gestores e empresas locais. O mercado é muito seletivo em relação a empresas e empresários que não se radicam verdadeiramente no país, e provei estar verdadeiramente comprometida com Moçambique, numa perspetiva de muito longo prazo, o que me permitiu consolidar relações e abrir portas. Construir a minha afirmação no mercado, implicou que eu demonstrasse ser uma gestora sólida e competente. Provei, com trabalho e resultados, que possuo a capacidade de liderar e de conduzir negócios de forma eficaz.
Para superar todos esses desafios, contei com a minha determinação, resiliência e com uma rede de apoio que fui construindo. Cada desafio enfrentado e superado fortaleceu a minha conexão com Moçambique e revalidou a minha decisão de me estabelecer aqui. Hoje, vejo cada obstáculo superado como um importante pilar da empresa sólida e respeitada que consegui construir.
4- O QUE MAIS ADMIRA NO PAIS EM QUE ESTÁ?
É, sem dúvida, o seu povo, a hospitalidade, a resiliência e a alegria dos moçambicanos, caraterísticas que são contagiantes e inspiradoras. A riqueza cultural é vastíssima, com uma multiplicidade de tradições, línguas e práticas artísticas que refletem a diversidade étnica do país. Além disso, a idiossincrasia de Moçambique, com a sua fusão de influências africanas, portuguesas, indianas e árabes, cria um caldeirão cultural singular que enriquece a vivência diária no país. É essa combinação de fatores que torna Moçambique um lugar tão especial e cativante.
5- O QUE MAIS ADMIRA NA EMPRESA / ORGANIZAÇÃO EM QUE ESTÁ?
Há imensas coisas que admiro na minha empresa, a Print4You Moçambique. É uma empresa de Managed Print Services, fundada com a visão de ser líder no seu setor de atividade, e temos crescido e evoluído graças a várias qualidades que valorizo profundamente. Em primeiro lugar, as pessoas, que são o coração da nossa organização. Admiro a resiliência de nossa equipa, a humildade e a brilhante capacidade de adaptação. A capacidade inabalável de abraçar mudanças, apoiando a implementação de tecnologia e a melhoria de processos, é verdadeiramente admirável. O espírito colaborativo é outro ponto forte: as nossas equipas trabalham internamente de maneira harmoniosa e interdependente, mas também cooperam ativamente com as equipas dos nossos clientes. Essa colaboração fortalece as nossas relações e a confiança mútua.
A reputação e a confiança que conquistamos no mercado são fundamentais para o nosso sucesso. Orgulho-me muito dos ciclos longos de relação com os nossos clientes, evidenciando a satisfação e a confiança que depositam nos nossos serviços e na nossa capacidade de corresponder às suas expectativas. A nossa dedicação para oferecer excelência permitiu-nos conquistar um espaço de destaque no mercado.
6- QUE RECOMENDAÇOES DARIA A PORTUGAL E AOS SEUS EMPRESARIOS E GESTORES?
Em primeiro lugar, diria que investir em África é inteligente; que deveriam fazer investimentos em setores estratégicos e de longo prazo, tal como o Estado Português devia investir fortemente na diplomacia.
É fundamental sublinhar que África, e particularmente Moçambique, apresenta um cenário dinâmico de crescimento, tanto económico quanto demográfico, que deve ser aproveitado. De acordo com dados recentes, África é o segundo continente mais populoso, e espera-se que a sua população duplique até 2050. Este crescimento demográfico é acompanhado de um aumento da força laboral jovem e qualificada, o que representa uma oportunidade única para os empresários portugueses.
A estagnação do crescimento demográfico na Europa, e a consequente falta de mão de obra qualificada, realça a necessidade dos empresários diversificarem os seus focos geográficos de investimento. No entanto, tal como no resto do mundo, também não é possível olhar para África com objetivos de curto prazo: é imperativo desenvolver um plano consistente e resiliente a longo prazo, particularmente em Moçambique, onde a constância e a adaptação às realidades locais são determinantes para o sucesso.
Além do potencial de mão de obra qualificada, Moçambique possui recursos naturais “infindáveis” e um potencial económico significativo, demonstrado pelo seu crescimento contínuo em diversos setores e pela sua posição estratégica na África Austral. Acredito que Moçambique reúne todas as condições para aumentar muito significativamente a sua capacidade de captação de investimento estrangeiro nos próximos anos.
Portugal deve incentivar uma diplomacia económica robusta entre Portugal e Moçambique – garantindo condições favoráveis e sustentáveis para os investimentos – e apostar na criação de conselhos empresariais bilaterais, missões comerciais e feiras de negócios específicas, que possam catalisar a relação entre empresas portuguesas e moçambicanas.
7- EM QUE SETORES DO PAÍS ONDE VIVE PODERÃO AS EMPRESAS PORTUGUESAS ENCONTRAR CLIENTES?
Acima de tudo, é fundamental entender o contexto de Moçambique, o seu potencial, bem como as suas limitações e necessidades. As empresas em Moçambique têm expectativas elevadas em relação à qualidade e consistência dos produtos e serviços oferecidos. Além disso, valorizam uma abordagem colaborativa e um capital “paciente” – isto é, um investimento com visão de longo prazo.
O setor financeiro, os serviços, a metalomecânica, as bebidas, ou a construção, são setores atrativos, mas poderia estender a lista. Em todos estes setores existem empresas portuguesas de referência e de enorme sucesso, mas eu destacaria os seguintes: Agricultura (um território enorme, extremamente fértil, e com custos de produção competitivos, mão-de-obra disponível), Agroindústria (é claramente o setor onde mais apostaria), Indústria em geral e Serviços (em especial no domínio das tecnologias).
8- EM QUE SETORES DE PORTUGAL PODERIAM AS EMPRESAS DO PAÍS ONDE ESTÁ QUERER INVESTIR?
A minha experiência e intuição sugerem-me que os investidores moçambicanos se devem concentrar em setores para os quais Moçambique tem um elevado potencial de crescimento e que em Portugal apresentam resultados consistentes. Nesse sentido, o turismo é, sem dúvida, um setor estratégico. Portugal, apesar dos muitos constrangimentos, tem crescido imenso, oferecendo uma qualidade de turismo que se destaca no panorama internacional. A construção é outro setor que destacaria. Por último, a agricultura e a agroindústria apresentam inúmeras oportunidades e garantias de investimento seguro. Cada um destes setores complementa os recursos naturais e capacidades de Moçambique, e beneficiariam da experiência e inovação desenvolvidas em Portugal.
9- QUAL A VANTAGEM COMPETITIVA DO PAÍS EM QUE ESTÁ QUE PODERIA SER REPLICADA EM PORTUGAL?
Das muitas vantagens competitivas de Moçambique que poderiam ser replicadas em Portugal, destaco as iniciativas governamentais e incentivos – políticas favoráveis ao investimento estrangeiro e esforços para melhorar a infraestrutura e o ambiente empresarial. Portugal deve reforçar a sua competitividade, atraindo mais e melhor investimento, em muitas áreas, das quais destacaria o setor dos serviços e tecnologia, atraindo e retendo talento!
10- PENSA VOLTAR PARA PORTUGAL? PORQUÊ?
De momento, não penso voltar a Portugal em definitivo. Tenho em Moçambique a minha principal base de amigos e estou completamente absorvida pela dinâmica de crescimento da minha empresa bem como com os compromissos que assumo com os nossos clientes.