24 de Dezembro de 2024
EuroAmericas Forum 2024 | 1.ª Edição
A 1.ª Edição do EuroAmericas Forum 2024 reuniu mais de 400 pessoas de mais de 40 nacionalidades diferentes nos dias 17 e 18 de dezembro, na Nova SBE.
5 de Março de 2024
Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.
1- O que o levou a sair de Portugal?
Na verdade, já saí de Portugal por duas vezes. A primeira vez saí por curiosidade. Curiosidade de conhecer outros mercados, curiosidade em testar a minha capacidade de adaptação, curiosidade relativamente a outras culturas de trabalho e curiosidade em conhecer o mundo.
A segunda, numa fase mais consolidada da minha carreira, foi pelo desafio de trabalhar em mercados de maior dimensão ou com mais complexidade e abrir opções de crescimento para a minha carreira. No fundo, saí à procura de uma oportunidade para alargar o leque de escolhas e oportunidades na minha carreira.
2- Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser português?
A nossa capacidade de adaptação a outras culturas e de aprender outros idiomas são sem dúvida grandes vantagens. O nosso ADN tem características específicas que nos ajudam a chegar a uma cultura completamente diferente e adaptarmo-nos mais rápido que outras nacionalidades. Outra vantagem é o facto de a língua portuguesa ter uma variedade muito grande de sons, o que nos permite aprender outros idiomas com maior facilidade. A conjugação destes dois fatores facilita a adaptação dos portugueses a novas culturas. A maior desvantagem é que, por Portugal ser uma economia de menor dimensão, não tem a capacidade e os mecanismos de apoio ao investimento no estrangeiro, como têm outros países.
3- Que obstáculos teve de superar e como o fez?
O maior obstáculo é sempre adaptar a nossa cultura de trabalho à realidade local. Naturalmente que há caraterísticas de liderança que são comuns no mundo inteiro, mas uma das chaves do sucesso quando saímos do nosso é país é perceber as nuances de cada mercado, como comunicar de forma eficaz e o que motiva as pessoas. Em cada país que vivi, houve claramente um processo de desaprender a cultura de trabalho do último país e voltar a aprender a cultura do novo, de forma a praticar uma liderança mais eficaz. É curioso que ainda hoje faço certas coisas de certa forma porque foi assim que aprendi em Portugal, outras porque resultavam bem em Espanha, ou aplico o rigor que obrigam no Reino Unido, mas sempre com a noção do seu impacto na cultura do país onde estou.
Apesar deste processo, sou produto inevitável de todas as experiências profissionais que tive o privilégio de viver e todas elas contribuem de certa forma para uma adaptação mais eficaz a cada mercado de trabalho. E no fim do dia, é o conjunto destas experiências que me permitiram ultrapassar o maior obstáculo que é justificar porquê um português para determinada função ou porquê eu.
4- O que mais admira no país onde está?
O que mais admiro em Moçambique é a resiliência do povo e a boa disposição. Estas duas características conjugadas levam ao empreendedorismo e à inovação. Quando falamos de Moçambique a primeira coisa que vem à cabeça é um país dos mais pobres do mundo na zona sudeste de África. Uma economia pequena e com pouco interesse. Na verdade, é um país de mais de 30 milhões de pessoas, com mais de 60% da população abaixo dos 25 anos e ainda com uma percentagem elevada de economia informal. Estas características, combinadas com eventos climáticos extremos, obrigam a que o país e o seu Povo tenham uma capacidade de resistir a eventos negativos e de inovação extraordinários.
5- O que mais admira na empresa ou organização onde está?
O que mais admiro no Grupo Standard Bank é a sua capacidade de entender África e de levar África ao mundo. O Standard Bank é o maior banco africano, com presença em 20 países em África e 5 representações em vários pontos do globo. A nossa vocação é servir os nossos Clientes em cada uma destas geografias, atrair investimento para o continente africano e expandir a base de parceiros de comércio. Entender África, é entender que o continente é composto por 54 países, cada um com a sua identidade, todos diferentes entre si em termos de economia, cultura, geografia e, simultaneamente, conseguir operar em ambientes de grande volatilidade. O Grupo Standard Bank tem sido um dos maiores canais de investimento em África nas últimas décadas, e continua a expandir a sua presença, para contribuir para o desenvolvimento dos 54 países do continente africano.
6- Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores?
Em relação a Moçambique, as recomendações que daria a Portugal e aos seus empresários é que olhem para Moçambique não só como uma oportunidade atual, mas principalmente como uma oportunidade a longo prazo, para os próximos 10, 20, 30 anos. Em 2050, a Europa irá sofrer uma crise demográfica muito grave, quer em termos de falta de mão-de-obra, quer em termos de procura. O nosso dever enquanto gestores é não só preparar as empresas portuguesas para o curto-prazo, mas também para o longo prazo. Nesse sentido, considerar investir em mercados como Moçambique, que hoje têm níveis de procura e volumes baixos, em comparação com mercados mais desenvolvidos, mas com um potencial enorme devido à conjugação do dividendo populacional e aumento do rendimento per capita.
Por estas razões, Moçambique deveria ser um país importante e de destaque na agenda dos empresários e gestores portugueses.
7- Em que setores do país onde vive poderiam as empresas portuguesas encontrar clientes?
Os sectores mais interessantes para as empresas portuguesas seriam os sectores das infraestruturas, construção, bens de consumo, energia e agricultura. Infraestruturas e construção pelo potencial que Moçambique tem para ser a porta para o mar de alguns países africanos que necessitam de acesso aos mercados globais. Estamos a falar de estradas, linhas ferroviárias e portos com capacidade para todas as importações e exportações de países como Zimbabué, Zâmbia e Botsuana e a própria África do Sul. Adicionalmente, existem boas oportunidades em áreas como a distribuição e a indústria de bens de consumo, apesar da forte concorrência da África do Sul. Finalmente, o meu sector preferido, o sector agrícola, o qual oferece oportunidades inigualáveis em vários tipos de culturas, desde as hortícolas, cereais, frutas, frutos secos e culturas de regadio como o arroz. O país vizinho, Zimbabué, foi qualificado como o celeiro de África, e por isso não vejo razão para que Moçambique não possa ser igualmente uma potência, tendo em conta que o solo e o clima são idênticos
8- Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde vive querer investir?
Atualmente, um dos pontos de maior atratividade de Portugal é a sua estabilidade política e macroeconómica. Para países onde esta volatilidade faz parte do ADN dos empresários, é importante ter outras opções onde aplicar as poupanças de forma a fazer gestão de risco. Neste sentido, o sector imobiliário continua a ser um sector muito atrativo por constituir uma reserva de valor com pouca volatilidade.
9- Qual a vantagem competitiva do país em que vive que poderia ser replicada em Portugal?
As duas grandes vantagens competitivas que Moçambique tem dificilmente podem ser replicadas. Uma é a existência de grandes reservas de recursos naturais desde o gás natural, carvão, areias pesadas, pedras preciosas, e grafite. Estes recursos serão a chave para o desenvolvimento económico do país. O segundo, é a pirâmide demográfica e a percentagem de população jovem que existe em Moçambique. Esta vantagem comum a quase todos os países africanos, sentir-se-á daqui a 20 ou 30 anos, mas vai mudar o paradigma do crescimento económico e até a geopolítica internacional.
10- Pensa voltar a Portugal? Porquê?
A última vez que saí de Portugal, na altura para o Reino Unido, foi para abraçar novos desafios e explorar novas oportunidades de carreira. Em termos profissionais, Portugal continua sempre a ser uma ótima opção, mas as oportunidades têm de ser desafiantes em comparação com o que globalmente temos disponível. Para uma fase da vida pós-executivo, Portugal é um destino muito atrativo pela qualidade de vida, clima e localização geográfica. Em conclusão, caso não haja uma oportunidade profissional que justifique o regresso, acredito que mais tarde ou mais cedo voltaremos a adotar Portugal como a base familiar.
Consulte a entrevista original aqui.