O investimento volta a marcar o encontro de hoje entre Cavaco Silva e dezenas de empresários e executivos influentes.
John Melo está à frente da Amyris, uma empresa de biotecnologia nos Estados Unidos que tem entre mãos dois importantes projectos: reduzir os custos na cura da malária e produzir a segunda geração de biocombustíveis. No final de Fevereiro, e aproveitando a visita de Cavaco Silva a São Francisco, este luso-descendente organizou um almoço privado, no qual juntou o Presidente da República com um grupo de grandes investidores da Califórnia. Objectivo: para divulgar vantagens de Portugal a potenciais parceiros.
“Coincidência ou não, menos de seis semanas depois, um desses convidados, que não conhecia o país, esteve cá em visita de negócios para analisar possíveis investimentos”. O episódio é revelado pelo empresário e presidente da Logoplaste, Filipe de Botton, que o conta para demonstrar como a acção de um “embaixador informal”, como é o caso de John Melo, pode ser benéfica para promover o país fora de portas. Essa foi, aliás, a ambição que levou Filipe de Botton, apoiado pela Presidência da República a criar o Conselho da Diáspora Portuguesa: uma rede de portugueses e luso-descendentes em lugares de influência no mundo que contribuem para divulgar o país e reforçar a sua reputação nos mercados externos, em áreas tão distintas como economia, cultura, ciência ou cidadania.
Esta rede já conta com 71 conselheiros, maioritariamente ligados à actividade económica e empresarial, e organiza hoje, em Cascais, o seu segundo encontro anual. Uma reunião onde estarão presentes mais de 40 conselheiros – caso de António Horta Osório (Lloyds), Carlos Tavares (Peugeot Citroen), João Picoito (Nokia), João Noronha Lopes (McDonald’s), Miguel Fonseca (Toyota), Joaquim de Almeida (actor) ou Victor Borges (Hermés), entre muitos outros. Aos conselheiros irão ainda juntar-se Cavaco Silva, vários membros do Governo e outros convidados institucionais, entre mais de 100 pessoas.
‘Nearshore’ e saúde na agenda
À semelhança de 2013, a agenda da reunião conta com temas específicos para debate. Este ano, os dois temas dividem-se entre economia (Portugal como plataforma de exportação de serviços) e saúde (prevenção da doença e promoção da saúde). No primeiro caso, Armando Zagalo de Lima, vice-presidente da Xerox nos Estados Unidos, irá apresentar um estudo que revela o potencial de Portugal para atrair serviços de ‘nearshore’ (deslocalização de centros de suporte, ‘outsourcing’ de processos e centros de inovação). “Atrair investimento externo, criar actividade empresarial e emprego são aspectos fundamentais para o desenvolvimento da economia portuguesa”, comenta o executivo, para quem há várias formas de cumprir esse objectivo. “O país tem condições excepcionais para atrair empresas e estabelecer os centros de apoio aqui”.
Uma perspectiva partilhada por outro conselheiro da diáspora. Para Pedro Abreu, da McAfee, “Portugal tem de definir áreas em que vai competir ao nível mundial e tem de fazê-lo com base nos activos que lhe dão vantagem competitiva”, defende. E realça a importância do talento: “O país tem uma camada jovem educada em ciências e tecnologia que está subutilizada. E, no entanto, no resto do mundo, há uma imensa falta de talento com essas capacidades”. Pedro Abreu admite que o trabalho da diáspora é importante e que ele próprio já teve oportunidade de “mudar alguns preconceitos ou percepções negativas, por exemplo, em relação às restrições do mercado laboral em Portugal. Executivos aqui nos Estados Unidos partem do princípio que o mercado de trabalho português é inflexível como a França e outros países do Sul da Europa. Por isso, nem olham para Portugal como uma possibilidade”, lamenta. Temas que decerto vão continuar a marcar a agenda dos “embaixadores” da diáspora.
Por Económico, Helena Cristina Coelho, 22 Dezembro 2012