O presidente do Conselho de Administração da Mecachrome e Conselheiro da Diáspora Portuguesa, falou em entrevista à AICEP sobre os investimentos da empresa no sector aeronáutico em Portugal.
O grupo francês Mecachrome está presente em Portugal com duas fábricas no setor aeronáutico, em Évora e Setúbal, num investimento que emprega 380 pessoas na produção de peças de alta tecnologia para motores de aeronaves. De acordo com Júlio de Sousa, presidente do Conselho de Administração da Mecachrome, trata-se de uma estrutura fundamental para o grupo francês que irá continuar a desenvolver-se em Portugal. Português de nascimento, Júlio de Sousa foi aos 10 anos viver para França, onde estudou e iniciou a sua carreira na Mecachrome, tendo, ao longo de mais de 30 anos de atividade, assumido várias funções na empresa até chegar à liderança do grupo que emprega hoje cerca de 3.000 pessoas e conta com 13 unidades de produção na Europa – incluindo Portugal –, na América do Norte e no Norte de África.
Após um primeiro investimento em Setúbal, o grupo francês Mecachrome – que lidera – apostou num novo investimento, de cerca de 30 milhões de euros, em Évora, dando um importante contributo ao desenvolvimento do cluster aeronáutico português. Pode descrever-nos sucintamente os principais aspetos deste investimento e quais as metas a atingir em termos de produção, emprego e faturação?
Como tínhamos previsto, o objetivo é continuarmos a desenvolvermo-nos em Portugal no fabrico de peças de alta tecnologia, essencialmente para os motores de avião de nova geração, neste caso, o motor Leap, e em particular com os métodos de produção inovadores como o processo criogénico. Em 2018, as fábricas de Évora e de Setúbal realizaram um volume de negócios de 15 milhões de euros, empregando 380 pessoas. O objetivo da empresa para as duas fábricas é chegar aos 400 trabalhadores e a um volume de negócios de 30 milhões de euros.
Qual a importância da fábrica de Évora para o grupo Mecachrome, que conta com várias unidades de produção em vários países, além de França?
A implantação desta estrutura em Portugal é fundamental para o desenvolvimento do grupo uma vez que nesta fábrica (extremamente moderna e potencializada para a era da indústria 4.0) nós fabricamos produtos de alta tecnologia para os motores Leap e temos como objetivo reproduzir o mesmo esquema com outros construtores de motores de aeronaves.
Quais foram os principais fatores que levaram o grupo francês a escolher Portugal para os seus investimentos?
Os principais fatores decisivos foram os custos relativamente competitivos, um apoio importante por parte do Estado português, da região de Évora e da AICEP, a presença de um grande construtor aeronáutico – a Embraer – nas proximidades das nossas instalações, uma cultura parecida com a francesa, bem como a excelência dos centros de formação e das universidades portuguesas.
Como português com toda uma carreira profissional desenvolvida na Mecachrome em França, como vê esta aposta em Portugal? Quais são os desafios para o futuro no que respeita à presença da Mecachrome em Portugal?
Não há aqui necessariamente uma relação de causa e efeito, no entanto, aquando da decisão final relativa à escolha de um país estrangeiro mas europeu, o conhecimento do país foi um dado adicional.
Quanto ao futuro, o desafio é desenvolver com sucesso as fábricas de Évora e de Setúbal e continuar a desenvolver novos projetos em Portugal e acompanhar o crescimento do setor aeronáutico no país.
Como analisa o cluster aeronáutico português?
Consideramos que o cluster aeronáutico português é um ativo importante para as empresas locais, mas penso que deveria haver uma reflexão sobre o desenvolvimento de outras profissões relacionadas com o setor aeronáutico para se conseguir um cluster mais robusto.
Quais os seus fatores de competitividade e de que forma poderão obter maior reconhecimento internacional?
Para nós, os principais fatores de competitividade são a existência de um custo laboral competitivo, pessoal bem formado, qualificado e motivado, bem como uma estrutura bem desenvolvida. Para aumentar o seu reconhecimento internacional, penso que poderíamos incrementar as relações entre os principais investidores mundiais e Portugal. Por exemplo, a compra da Embraer pela Boeing deveria ser uma ótima oportunidade para o cluster aeronáutico português.
Como membro do Conselho da Diáspora Portuguesa, que importância atribui a esta entidade e qual o seu papel na promoção da imagem de Portugal e das suas empresas no mundo? O que podem os conselheiros fazer para atrair mais investimento produtivo para Portugal?
Ao nível do Conselho da Diáspora, poderia eventualmente ser interessante desenvolver comissões específicas em função das necessidades das diferentes indústrias implantadas em Portugal para melhor as promover internacionalmente.
Por AICEP, Novembro de 2019